terça-feira, 28 de junho de 2011

Civilização e outros contos - Eça de Queiroz

(por Patrícia Cardoso)


Civilização e outros contos é uma obra de José Maria Eça de Queiroz que reúne contos desde 1945 a 1900. A obra possui cinco contos: “Civilização”,  “A perfeição”, “O suave milagre”, “O tesouro” e “A Aia”.

CIVILIZAÇÃO

O conto Civilização de Eça de Queirós tem características muito parecida com  a obra “A Cidade e as Serras”. Há uma oposição vida moderna/rural. Trata-se de uma crítica à civilização burguesa, industrial e materialista, e mais diretamente às suas invenções científicas. A começar pelo título, o narrador satiriza toda a classe burguesa de sua época. A história é narrada em primeira pessoa pelo amigo de Jacinto.
O conto tem como protagonista Jacinto, um homem muito civilizado que nasceu num palácio rodeado por paisagens maravilhosas, nunca padeceu, possuía uma saúde de ferro, sempre teve boas amizades e do amor só experimentara o  mel. 
Mas, apesar de toda essa vida cheia de regalos, Jacinto se sentia entediado e pessimista lia Schopenhauer e o Eclesiastes vivia bocejando, sem prazer em viver. “ (…) a vida era para Jacinto um cansaço – ou por laboriosa e difícil, ou por desinteressante e oca. Por isso o meu pobre procurava constantemente juntar à vida novos interesses, novas facilidades.” (p.55)
Essas novas facilidades refere-se a inovações científicas que Jacinto possuía como: a máquina de escrever, os autocopistas, fonógrafo, telefone, o telégrafo etc. Aí percebemos uma forte influência progressista e ao mesmo tempo uma contradição que a civilização materialista ao invés de proporcionar grandes emoções causa tédio.
Na segunda parte do conto, o narrador vai descrevendo toda o cotidiano de Jacinto cercado de glamour, bons livros e roupas  de sedas, enfim um exemplar homem civilizado, mas sempre tedioso com bocejos mais calvos.
Na terceira parte inicia uma valorização à natureza e à vida natural. Essa valorização do campo contra a cidade constitui uma particularidade, tanto neste conto do Eça, como no romance realista-naturalista. Jacinto se prepara durante sete semanas para ir para Torges uma cidadezinha serrana onde tinha uma rude casa habitada por caseiros.
Cuidadosamente Jacinto escrevera ao seu procurador Souza que ordenasse a arrumação para  a casa com todos os confortos dignos de uma pessoa civilizada. 
Ao partir para Torges com suas trinta e setes malas Jacinto e seu amigo passam por uma verdadeira aventura perdendo as malas, montando em jumento, percorrendo caminhos agrestes, além disso, a casa não foi arrumada permanecia igual antes, rústica.
A princípio há uma certa repulsa a simplicidade daquele lugar com seus móveis,talheres simples e suas roupas grosseiras. Entretanto, ao perceber o sabor do campo e das comidas deliciosas Jacinto vai recuperando o ânimo de viver e reconhece as virtudes simples e sadias que antes desprezava.
No final do conto o narrador nos mostra a morte da civilização descrevendo um lugar muito diferente daquele do palácio “quis lavar as mãos, maculadas pelo contato com estes detritos de conhecimentos humanos. Mas os maravilhosos aparelhos do lavatório, da sala de banho, enferrujados, perros, dessoldados, não largaram uma gota de água; e, como chovia nessa tarde de abril, tive de sair à varanda, pedir ao Céu que me lavasse.” (p.66)


 A PERFEIÇÃO

O conto “a perfeição “  relata o episódio da obra A Odisseia, onde Ulisses viveu angustiado durante os sete anos na ilha Ogígia, na presença da deusa Calipso   que o amava. 
Nessa ilha tudo era perfeito com seus rochedos, com suas terras férteis toda envolta do mar, a deusa Calipso também era digna da perfeição, linda, imortal, calma e amava Ulisses.
No entanto, Ulisses colocado como uma personagem tipo do Homem em geral e não como herói perfeito, não consegue se apaixonar pela deusa perfeita que possui apenas virtudes.  Ele busca sentimentos não está feliz na perfeição da bela deusa, ansia voltar para os braços de sua esposa Penélope e de seu filho Telêmaco.
Ulisses prefere enfrentar grandes desafios enfrentando perigos do mar e  ir em busca de Penélope, mesmo sabendo que não estaria tão jovem, bela e serena como a deusa.
Ulisses garante que mesmo sem motivos, ele afrontaria a ira dos deuses, pois aquela vida não é capaz de saciar os desejos dele, a liberdade do seu coração que o atormenta e impele a fugir da ilha. O Homem é um ser imperfeito, cuja perfeição só o atormenta, ele procura a natureza, a sua essência, por isso vivia angustiado na ilha de Calipso. 


O SUAVE MILAGRE

Este conto baseia-se na história da bíblia, mais especificamente na história de Jesus, numa época em que sua fama se estendia por toda a Judeia.
Todos falavam dos milagres de Jesus que alimentava multidões , amedrontava demônios, emendava todas as desventuras.
Neste conto, paralelamente, são caracterizados e apresentados sugestivamente os ricos e os prepotentes, que contrastam com a dor e a miséria de um pobre entrevadinho que vivia com a mãe num casebre perdido na serra, longe do povoado.
Obed é um homem rico e orgulhoso que perde suas produções agrícolas e seu gado passando a se queixar de seu Deus cruel, mas ouvira falar desse Rabi  da Galileia, pensou que seria um feiticeiro que o ajudaria e ordenou aos seus servos que partissem em busca desse novo Rabi. Os servos andaram em busca de Jesus por inúmeros lugares mas, não o encontraram e Obed perde todo seu vinhedo e seus gados.
Outro homem a procurar Jesus é Séptimo centurião romano o qual é exemplo de impiedade extremamente poderosa. Acontece que sua única filha sofria de uma doença e ouvindo falar de Jesus  segue juntamente com seus soldados atrás dele. Eles invadiam casas, assustavam as mulheres sem se importarem com nada e novamente foi uma busca sem sucesso e sua filha morria.
A ação principal desenrola-se em torno de um  criança pobre  e aleijada e que também ouvira falar de Jesus e queria encontrá-lo mas, sua mãe viúva era descrente não acreditava que encontraria Jesus, pois os poderosos não conseguiram imagina se ela uma pobre viúva conseguiria.
Apesar da descrença e desalento da mãe, o menino acredita fervorosamente que só Ele o pode salvar. E, de fato, o milagre acontece Jesus entra no casebre ao encontro do menino provando que a providência divina não atende à voz da autoridade e do poder mas ao clamor da humildade.


O TESOURO

O tesouro é uma história de astúcia e crimes. O conto acontece em torno de uma "viagem" de três irmãos pela floresta em busca de um tesouro perdido, tendo como tema principal a ambição desmedida e resumindo a moral da história ao sábio ditado popular "quem tudo quer tudo perde". Eça escreve uma história com humor, imaginação e alguma poesia, e também algo de trágico e amargo. No entanto, por detrás do trágico, há um prazer do lúdico, da dimensão onde se pode desvendar, através das personagens, uma visão negra da humanidade e das relações entre os indivíduos. 
O  conto “O Tesouro” baseia-se na vida de Rui, Guanes e Rostabal, três irmãos que viviam nas Astúrias e eram “mais famintos e miseráveis do reino”. Passavam os dias no Paço de Medranhos junto à lareira, que não acendiam há muito. Passavam fome e, dormiam no estábulo.
Certo dia, quando passeavam na mata de Roquelanes, acharam numa cova de rocha um velho cofre de ferro com palavras árabes. Este tinha três chaves e três fechaduras.  Com isso, Rui decidiu que o tesouro irá ser dividido pelos três irmãos.
Decidiram que Guanes iria à vila mais próxima (Retortilho) e traria comida e alforges para carregar o tesouro, enquanto isso Rui tentou convencer o seu irmão Rostabal a matar Guanes, porque este gozava com ele, iria gastar o dinheiro mal gasto e deste modo dividiriam o tesouro  apenas por dois. E assim se passou. 
O primeiro a ser morto Guanes  à primeira oportunidade, Rui matou Rostabal, ficando assim com o Tesouro só para si. Enquanto Rui celebrava a vitória sobre os seus irmãos, imaginava como seria ser o novo Senhor de Medranhos e reparara que o seu irmão só trouxera duas garrafas de vinho para três irmãos, mas não quis pensar no assunto.
Começou a beber o vinho e a comer o Capão que o irmão trouxera e quando estava a carregar o ouro do tesouro para os alforges começou a sentir um mal estar, como se uma chama se acendesse dentro dele e, quanto mais ele a tentava apagar, mais a sentia. Rui tenta pedir ajuda aos seus irmãos mortos e apagar o fogo com a frescura da água, mas esta revela-se como metal derretido, queimando-o. 
Assim, o tesouro ainda continua na mata de Roquelanes.


A AIA

O conto começa com o rei derrotado e morto após uma batalha. A rainha desolada tentou fazer de tudo para proteger o seu filho, herdeiro do reino. Contudo, o tio da criança, o irmão bastardo do rei, um homem tenebroso e sombrio, estava ansioso por se sentar no trono, e disposto a tudo para consegui-lo.
Uma noite, depois de embalar o príncipe, a aia deitou-se e adormeceu. Mas rapidamente acordou com o barulho dos passos do bastardo, que vinha para matar o príncipe. O seu filho, dormia num berço de verga ao lado do príncipe. Num movimento rápido, ela trocou os bebês salvando o seu futuro rei à custa da vida do seu filho.
A rainha apercebendo-se do que a aia tinha feito agradeceu-lhe, prometendo dar-lhe todas as riquezas. A aia escolheu um punhal e, dizendo que salvara o seu príncipe e que, naquele momento, ia dar de mamar ao seu filho, cravou o punhal no coração.
A aia é a história da ama de leite de um príncipe, exemplo máximo de valores como a lealdade e a fidelidade.

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