quinta-feira, 14 de julho de 2011

Viagem no espelho - Helena Kolody

 (Por Rosenilda Pereira Padilha)


A escritora Helena Kolody nasceu em 12 de outubro de 1912 em Cruz Machado no Paraná e faleceu aos 92 anos em 2004. Escreveu seus primeiros poemas aos 12 anos de idade, seu primeiro poema publicado foi aos 16 anos, intitulado “A lágrima”. Aos 20 anos iniciou a carreira de professora, lecionou em diversos colégios. Foi uma das mais importantes figurantes das letras paranaenses.
Seus livros: Paisagem Interior, Música Submersa, A Sombra do Rio, Vida Breve, Era Espacial, Trilha Sonora, Tempo, Correnteza, Infinito Presente, Sempre Palavra, Poesia Mínima, Viagem no Espelho, Ontem Agora, Reika.
O haicai é uma forma de poesia originada no Japão, é pequeno, com apenas três versos, um com cinco, outro com sete e o último com cinco silabas poéticas, possuem escritas icônicas e sua concentração verbal consegue o máximo efeito estético numa linguagem bem sintética. O tanka, (poema clássico, também de origem japonesa, composto de trinta e uma silabas, distribuídas em estrofes de cinco versos), também marca as obras de Helena Kolody, revelando momentos tensos e transparentes, instantes de equilíbrio entre a vida e a morte. Vivacidade e mortalidade.
Kolody, como cultora do haicai, sabia transformar sua sabedoria em poemas luminosos e condensados. Sua obra representa a poesia breve, por haver uma predominância depoemas curtos. O “tempo” é um assunto relevante que marca significativamente todas as suas obras, também vemos temas como: o amor, a tecnologia, a morte, a banalização da vida, a falta de fraternidade e a metapoesia bastante latente em seus escritos.
O livro “Viagem no espelho” de Helena Kolody é uma antologia que reúne todas as suas obras anteriores, desde 1941 até 1988. Para justificar o título, os poemas são apresentados em ordem inversa, iniciando-se pelo último livro escrito por ela e terminando com os primeiros de sua carreira. O estilo e a temática são identificados a partir do mais depurado ao mais intuitivo inicial. Sua obra literária é como uma viagem ao contrário, ou imagem no espelho. Inicia com sua última obra “Reika” (1993) e termina com “Paisagem Interior” (1941). Por meio dessa viagem no tempo, podemos notar a depuração do estilo e a constante adaptação da poetisa em relação ao momento literário de sua época.
O “eu lírico” em viagem no espelho, vê a vida como um mistério e o simples fato de existir o fascina. A concentração verbal dos haicais kolodyanos, trabalha com muito lirismo e apresenta uma sonoridade rítmica que é marcada pelo processo de elaboração criativa e lúdica. Os poemas de Reika exploram a metapoesia, ou seja, o poema diante de si mesmo. Kolody, como poetiza vigorosa, concilia perfeitamente subjetividade e objetividade, emoção e razão, com poemas densos de significado, numa atualização constante em relação à modernidade.
Nessa obra, seus poemas são sugestivos e cheios de imaginação, intelectuais e emotivos, sintetizados e modernos, marcados por uma procura semântica inventiva de múltiplos sentidos. Percebemos a presença eminente de sentimentos de fugacidade, transitoriedade, temporalidade, mutabilidade, esperança e procura. Cada livro com características próprias, formando um todo cheio de significados como podemos observar na sequência abaixo:
 Reika: É o que inicia a obra “Viagem no Espelho”. Composto principalmente por haicais e tankas, o tema mais explorado aqui, é a forte presença da natureza.
Ontem Agora: São poemas curtos (haicais e epigramas), contendo também alguns mais longos, trabalhando com antíteses e uma ironia latente.
Poesia Mínima: Trabalha com a metapoesia em formas poéticas breves, temos a metalinguagem e um “eu lírico” inspirado que fala sobre a aliteração e a incapacidade das palavras ao expressarem uma poesia.
Sempre Palavra: Aqui a fugacidade predomina, a ideia de efemeridade (tema comum a muitos simbolistas e neossimbolistas) é trabalhada com temas considerados essenciais como a vida, o amor e a inconstância do sentimento humano.
Infinito Presente: Nas poesias desse livro, percebe-se a depressão pessoal, tristeza e nostalgia, representadas por um “eu lírico” perturbado com sua existência.
Saga: Os poemas são variados, muitos com versos brancos, linguagem bastante metafórica e impressões intimistas.
Tempo: Na obra toda, o tema básico é o tempo, porém nesse livro ele predomina, trazendo consigo a efemeridade (esfera do tempo) e religiosidade, com temas bíblicos e lirismo intimista.
Trilha Sonora: Neste vemos cenas da natureza em relevo, contrastando com a vida urbana, é a transitoriedade do progresso modificando a paisagem.
Era Espacial: Um “eu lírico” angustiado com o progresso tirando a beleza e a graça das coisas naturais.
Vida Breve: Outra vez ela retoma o tema da brevidade, do exílio e da espiritualidade.
A Sombra do Rio: Os poemas se sobressaem com o tema da espiritualidade, o desejo de comunhão com Deus, há referencias à origem eslava e aos imigrantes e fortes lembranças bucólicas da infância. Dedica neste um poema a seus alunos.
Musica Submersa: Aqui a influência religiosa ucraniana da autora é forte, intimista e espiritualista. Ela transmite em seus poemas humildade e visão de deus. Parece crer numa predestinação para a dor. Presença de poemas mais longos em contraste com alguns breves.
Paisagem Interior: Esse livro encerra a obra “Viagem no Espelho” e marca o início da carreira de Helena Kolody como poeta. A linguagem é bastante metafórica e simbólica. Possui um transcendentalismo, um forte sentimento de humildade e reconhecimento de um atavismo ancestral. O temperamento da autora ao escrever, oscila entre soltar-se e reprimir-se. Seus pensamentos de natureza selvagem embatem com a religião e a opressão de sua época, num desejo constante de liberdade. Aqui ela fala de amor e paixão por meio de um “eu lírico” sentimental. Os poemas são longos e predominantes da forma clássica dos versos regulares. Há também uma forte conexão sanguínea e espiritual com sua pátria de origem (Ucrânia), ela eleva a história do seu povo e vemos o tema da migração definida pelo “eu lírico” como uma luta dolorosa.

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