terça-feira, 4 de setembro de 2012

MELHORES CRÔNICAS - RACHEL DE QUEIROZ


Por Rosenilda Pereira Padilha

(PET-Letras/UNICENTRO)

Melhores Crônicas Rachel de Queiroz

A importância da escritora para a história da Literatura Brasileira

Rachel de Queiroz é considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras do século XX. Suas obras no geral são voltadas para a realidade regional, mudando a concepção de literatura no Brasil, tornando-a, uma escritora de extrema importância no meio literário de sua época. Como jornalista desde seus 17 anos, foi colaboradora regular de diversos jornais locais, onde escrevia e publicava quase que diariamente. Escreveu mais de duas mil crônicas e a maioria delas, apresenta como pano de fundo, o regionalismo, a realidade, retratos pitorescos do povo e imagens exatas da cidade do Ceará, sua terra natal, e do Rio de Janeiro. A obra “Melhores Crônicas” é uma seleção organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, de importância bastante significativa para a Literatura, visto que a produção geral de Rachel acumulou diversos prêmios dentro do âmbito literário.

A Crônica como gênero literário: Alguns aspectos

  • A Crônica abrange textos que abordam a vida social, os contrastes do mundo e episódios tanto reais como fictícios.
  • A temática da crônica é escolhida ao acaso e pode ser polêmica, irônica ou humorística.
  • Geralmente são breves e fixadas em páginas jornalísticas.
  • Sempre narradas em 1° ou 2° pessoa numa escrita inteligível onde informação e literatura se confundem.
  • Textos curtos objetivando uma leitura rápida partindo de um assunto corriqueiro do quotidiano, fatos sem grandes significados.
  • Comportam um caráter reflexivo e interpretativo.

Há nas crônicas, uma subjetividade por apresentarem a perspectiva do autor, ou seja, seu modo de pensar sobre o tema escolhido. O leitor desse tipo de texto geralmente é o mesmo leitor de jornais e revistas semanais, por isso, há uma preocupação em retratar a vida do povo trabalhador e trivialidades que conferem à crônica, uma característica peculiar em relação aos demais gêneros que a Literatura engloba.

Principais aspectos da obra “Melhores Crônicas”

Sendo textos curtos, de publicações diárias em jornais, possuem um público alvo que se resume em pessoas urbanizadas. Há uma presença latente de “tipos” regionais retratados em diálogos abertos, que procuram envolver o leitor e estabelecer com ele, certa intimidade. Dentre os temas apresentados pela autora estão o amor, o tempo, a velhice, a morte, o folclore, as paisagens, os fatos curiosos, flagrantes e uma infinidade de tipos sociais representando a vida em pleno acontecimento. Algumas crônicas remontam cenas da vida carioca, outras retratam a seca do sertão, nessas, a autora demonstra uma identificação profunda com o Ceará e curiosidades que fazem do livro um importante registro histórico muito bem trabalhado pela autora.

Percebe-se que é no sertão que estão fincadas as raízes existenciais e literárias de Rachel de Queiroz, porém, é importante ressaltar que a obra também apresenta como pano de fundo, retratos do Ceará e do Rio de Janeiro. As personagens segundo Paulo Ronai, em nota no mesmo livro, são “(...) indivíduos singulares, perfis de tipos esquisitos em banalidades engraçadas e reflexivas. “Melhores Crônicas”, comporta divertidos flagrantes da vida cotidiana carioca, e no geral, pode ser vista como “(...) legítimos documentos de ecologia, folclore e psicologia regional”, onde a autora ressalta a arte de viver com uma escrita leve e bem próxima da realidade do seu tempo.

O livro “Melhores Crônicas” de Rachel também apresenta vários períodos da escrita de Rachel. Seu estilo vai de narrativo a dissertativo comentando, criticando, comparando e refletindo sobre a vida moderna. Apresentando temas bastante próximos dos dias atuais como é perceptível na crônica “Relato de um Brasileiro”, que traz como pano de fundo o fim da Ditadura Militar, onde depois de dez anos “abre-se uma perspectiva agradável” que dá valor ao voto do eleitor nas campanhas políticas.

Na crônica acima referida, a autora narra a vida simples de um vigia noturno que se aos tombos para sustentar a família, pois somente o salário mínimo não lhe é suficiente. Homem de pouca escolaridade, não soube arranjar documentos para receber o auxílio-família e ainda arca com descontos abusivos na folha de pagamento. Como hobby, cria galos de rinha, isto lhe confere uma ajuda financeira, porém não garante as despesas do mês. Quando se vê apertado vende a preço baixo as cotas de carne contrariando esposa e filhos, que se vingam devorando os ovos da pequena granja. Segura o quanto pode os cupons de açúcar, se acaso de faltar comida, podem tomar café.

Não bastasse isso, ainda lhe aflige a má sorte no amor. Estando já com a terceira esposa, pessoa de difícil convívio, ainda trouxe consigo dois filhos que só aumentaram as despesas e as vergonhas da família. Dos casamentos anteriores sobraram quatro filhos, todos ainda pequenos, a única que ajuda com trabalhos para fora é a sua enteada de vinte e um anos. Nesse contexto surge a possibilidade de dinheiro extra que ele pretende aproveitar muito bem e valorizar os três votos que por conta da ditadura, até então eram inúteis.

Nesta crônica há o registro de uma época em transição, onde vemos o começo de uma nova forma de governo, já denunciando o modo como a classe baixa irá se beneficiar do poder de escolha em épocas eleitorais. Rachel aborda as necessidades básicas do povo trabalhador, as manobras do dia a dia e o “jeitinho brasileiro” para suprir a falta de alimentos e garantir a sobrevivência.

Em resumo, esta é uma das crônicas que melhor representam o livro, por conter relatos fiéis de uma realidade vivida ou observada pela autora. Rachel não só projetava a alma e a dificuldade do povo do sertão, como relatava passagens marcantes de sua vida em Crônicas/contos que muito revelam sobre si e o modo como percebia, criticava e questionava os problemas sociais de sua época. Suas crônicas abordam a vida em movimento e a simplicidade evidenciando um olhar aguçado sobre tudo que a cercava.



Movimento Literário da obra: características mais significativas

Para entender o período literário da obra é importante saber que no início do século XX, a Literatura Brasileira passava por um período transitório que abarcava três estéticas literárias (Realismo, Naturalismo, Parnasianismo). Portanto, de um lado ainda era forte a influência dessas tendências artísticas que dominaram a segunda metade do século XIX; de outro, já começava a ser preparada a grande renovação modernista, cujo marco no Brasil é a Semana de Arte Moderna (1922). A esse período de transição, que não chega a construir um movimento literário chamamos de Pré-Modernismo.

É entre esse “Pré-Modernismo” e o “Modernismo” já fixado como movimento literário que as crônicas de Rachel estão inseridas. No “Modernismo”, há uma aproximação com o leitor numa linguagem mais leve e parecida com a oralidade criando certa intimidade apelativa e um enfoque mais direto dos fatos marcados pelo Realismo-Naturalismo do século XIX. Como tema, os autores do modernismo optam pelo regionalismo no romance, principalmente o nordestino, onde problemas como a seca, a migração, as lutas diárias do trabalhador rural, a miséria e a ignorância foram amplamente explorados e evidenciados.



Sobre a autora

A escritora Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza em 1910, ficou conhecida nacionalmente quando publicou a obra O Quinze (1930), um romance que retrata a realidade do povo nordestino. Nesta obra já se nota a preocupação da autora com as diferenças sociais de sua época. Foi jornalista, escritora, romancista, tradutora e importante dramaturga brasileira, conquistando diversos prêmios de destaque na Literatura.

Em 1977 Rachel foi a primeira mulher a conquistar um lugar na Academia Brasileira de Letras, isso causou grande alvoroço entre as feministas, porém, a autora esclareceu que seu lugar na Academia de Letras, era por merecimento e amizades que ela cultivou com homens, pois em mulheres não confiava, negando assim, qualquer envolvimento ou simpatia pelo movimento vigente. Em 1937 por ter se interessado pelas políticas sociais, foi presa e acusada de comunista e alguns exemplares de seus romances foram queimados.

Em 1960, Rachel passa a colaborar com o regime militar instalado no Brasil. Em 1967, ela acaba sendo nomeada para integrar o Conselho Federal de Educação. Rachel viveu por 92 anos, deixou uma diversidade de crônicas, gênero bastante explorado e onde mais se concentram suas produções. A autora era cosciente de sua arte, mesmo em meio a um mundo que atravessava um período de guerra ela soube aproveitar seu dom e conseguiu captar seus leitores por 77 anos, trabalhando textos com desenhos ilustrativos, caricaturas que aproximavam a realidade apresentada. Nota-se por meio de sua escrita, o domínio que tinha com a língua ao utilizá-la em um tom quase que de conversa, e sua sabedoria admirável, onde questiona e analisa psicologicamente seus personagens.

Referências:




FONTE:www.spacesports.com/~esquina/autores/rachel01.html

FONTE:NICOLA, José de. Literatura Brasileira das origens de nossos dias

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