Por Rosenilda
Pereira Padilha
(PET-Letras/UNICENTRO)
Melhores
Crônicas Rachel de Queiroz
A importância da
escritora para a história da Literatura Brasileira
Rachel de Queiroz é
considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras do século
XX. Suas obras no geral são voltadas para a realidade regional,
mudando a concepção de literatura no Brasil, tornando-a, uma
escritora de extrema importância no meio literário de sua época.
Como jornalista desde seus 17 anos, foi colaboradora regular de
diversos jornais locais, onde escrevia e publicava quase que
diariamente. Escreveu mais de duas mil crônicas e a maioria delas,
apresenta como pano de fundo, o regionalismo, a realidade, retratos
pitorescos do povo e imagens exatas da cidade do Ceará, sua terra
natal, e do Rio de Janeiro. A obra “Melhores Crônicas” é uma
seleção organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, de importância
bastante significativa para a Literatura, visto que a produção
geral de Rachel acumulou diversos prêmios dentro do âmbito
literário.
A Crônica como
gênero literário: Alguns aspectos
- A Crônica abrange textos que abordam a vida social, os contrastes do mundo e episódios tanto reais como fictícios.
- A temática da crônica é escolhida ao acaso e pode ser polêmica, irônica ou humorística.
- Geralmente são breves e fixadas em páginas jornalísticas.
- Sempre narradas em 1° ou 2° pessoa numa escrita inteligível onde informação e literatura se confundem.
- Textos curtos objetivando uma leitura rápida partindo de um assunto corriqueiro do quotidiano, fatos sem grandes significados.
- Comportam um caráter reflexivo e interpretativo.
Há nas crônicas,
uma subjetividade por apresentarem a perspectiva do autor, ou seja,
seu modo de pensar sobre o tema escolhido. O leitor desse tipo de
texto geralmente é o mesmo leitor de jornais e revistas semanais,
por isso, há uma preocupação em retratar a vida do povo
trabalhador e trivialidades que conferem à crônica, uma
característica peculiar em relação aos demais gêneros que a
Literatura engloba.
Principais
aspectos da obra “Melhores Crônicas”
Sendo
textos curtos, de publicações diárias em jornais, possuem um
público alvo que se resume em pessoas urbanizadas. Há uma presença
latente de “tipos” regionais retratados em diálogos abertos, que
procuram envolver o leitor e estabelecer com ele, certa intimidade.
Dentre os temas apresentados pela autora estão o amor, o tempo, a
velhice, a morte, o folclore, as paisagens, os fatos curiosos,
flagrantes e uma infinidade de tipos sociais representando a vida em
pleno acontecimento. Algumas crônicas remontam cenas da vida
carioca, outras retratam a seca do sertão, nessas, a autora
demonstra uma identificação profunda com o Ceará e curiosidades
que fazem do livro um importante registro histórico muito bem
trabalhado pela autora.
Percebe-se que é no
sertão que estão fincadas as raízes existenciais e literárias de
Rachel de Queiroz, porém, é importante ressaltar que a obra também
apresenta como pano de fundo, retratos do Ceará e do Rio de Janeiro.
As personagens segundo Paulo Ronai, em nota no mesmo livro, são
“(...) indivíduos singulares, perfis de tipos esquisitos em
banalidades engraçadas e reflexivas. “Melhores Crônicas”,
comporta divertidos flagrantes da vida cotidiana carioca, e no geral,
pode ser vista como “(...) legítimos documentos de ecologia,
folclore e psicologia regional”, onde a autora ressalta a arte de
viver com uma escrita leve e bem próxima da realidade do seu tempo.
O livro “Melhores
Crônicas” de Rachel também apresenta vários períodos da escrita
de Rachel. Seu estilo vai de narrativo a dissertativo comentando,
criticando, comparando e refletindo sobre a vida moderna.
Apresentando temas bastante próximos dos dias atuais como é
perceptível na crônica “Relato de um Brasileiro”, que traz como
pano de fundo o fim da Ditadura Militar, onde depois de dez anos
“abre-se uma perspectiva agradável” que dá valor ao voto do
eleitor nas campanhas políticas.
Na crônica acima
referida, a autora narra a vida simples de um vigia noturno que se
aos tombos para sustentar a família, pois somente o salário mínimo
não lhe é suficiente. Homem de pouca escolaridade, não soube
arranjar documentos para receber o auxílio-família e ainda arca com
descontos abusivos na folha de pagamento. Como hobby, cria galos de
rinha, isto lhe confere uma ajuda financeira, porém não garante as
despesas do mês. Quando se vê apertado vende a preço baixo as
cotas de carne contrariando esposa e filhos, que se vingam devorando
os ovos da pequena granja. Segura o quanto pode os cupons de açúcar,
se acaso de faltar comida, podem tomar café.
Não bastasse isso,
ainda lhe aflige a má sorte no amor. Estando já com a terceira
esposa, pessoa de difícil convívio, ainda trouxe consigo dois
filhos que só aumentaram as despesas e as vergonhas da família. Dos
casamentos anteriores sobraram quatro filhos, todos ainda pequenos, a
única que ajuda com trabalhos para fora é a sua enteada de vinte e
um anos. Nesse contexto surge a possibilidade de dinheiro extra que
ele pretende aproveitar muito bem e valorizar os três votos que por
conta da ditadura, até então eram inúteis.
Nesta crônica há o
registro de uma época em transição, onde vemos o começo de uma
nova forma de governo, já denunciando o modo como a classe baixa irá
se beneficiar do poder de escolha em épocas eleitorais. Rachel
aborda as necessidades básicas do povo trabalhador, as manobras do
dia a dia e o “jeitinho brasileiro” para suprir a falta de
alimentos e garantir a sobrevivência.
Em resumo, esta é
uma das crônicas que melhor representam o livro, por conter relatos
fiéis de uma realidade vivida ou observada pela autora. Rachel não
só projetava a alma e a dificuldade do povo do sertão, como
relatava passagens marcantes de sua vida em Crônicas/contos que
muito revelam sobre si e o modo como percebia, criticava e
questionava os problemas sociais de sua época. Suas crônicas
abordam a vida em movimento e a simplicidade evidenciando um olhar
aguçado sobre tudo que a cercava.
Movimento
Literário da obra: características mais significativas
Para
entender o período literário da obra é importante saber que
no início do século XX, a Literatura Brasileira passava por
um período transitório que abarcava três estéticas literárias
(Realismo, Naturalismo, Parnasianismo). Portanto, de um lado ainda
era forte a influência dessas tendências artísticas que dominaram
a segunda metade do século XIX; de outro, já começava a ser
preparada a grande renovação modernista, cujo marco no Brasil é a
Semana de Arte Moderna (1922). A esse período de transição, que
não chega a construir um movimento literário chamamos de
Pré-Modernismo.
É
entre esse “Pré-Modernismo” e o “Modernismo” já fixado como
movimento literário que as crônicas de Rachel estão inseridas. No
“Modernismo”, há uma aproximação com o leitor numa linguagem
mais leve e parecida com a oralidade criando certa intimidade
apelativa e um enfoque mais direto dos fatos marcados pelo
Realismo-Naturalismo do século XIX. Como tema, os autores do
modernismo optam pelo regionalismo no romance, principalmente o
nordestino, onde problemas como a seca, a migração, as lutas
diárias do trabalhador rural, a miséria e a ignorância foram
amplamente explorados e evidenciados.
Sobre a autora
A
escritora Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza em 1910, ficou
conhecida nacionalmente quando publicou a obra O
Quinze (1930),
um romance
que retrata a realidade do povo nordestino. Nesta obra já se nota a
preocupação da autora com as diferenças sociais de sua época. Foi
jornalista, escritora, romancista, tradutora e importante dramaturga
brasileira, conquistando diversos prêmios de destaque na Literatura.
Em
1977 Rachel foi a primeira mulher a conquistar um lugar na Academia
Brasileira de Letras, isso causou grande alvoroço entre as
feministas, porém, a autora esclareceu que seu lugar na Academia de
Letras, era por merecimento e amizades que ela cultivou com homens,
pois em mulheres não confiava, negando assim, qualquer envolvimento
ou simpatia pelo movimento vigente.
Em 1937 por ter se interessado pelas políticas sociais, foi presa e
acusada de comunista e alguns exemplares de seus romances foram
queimados.
Em
1960, Rachel passa a colaborar com o regime militar instalado no
Brasil. Em 1967, ela acaba sendo nomeada para integrar o Conselho
Federal de Educação. Rachel viveu por 92 anos, deixou uma
diversidade de crônicas, gênero bastante explorado e onde mais se
concentram suas produções. A autora era
cosciente de sua arte, mesmo em meio a um mundo que atravessava um
período de guerra ela soube aproveitar seu dom e conseguiu captar
seus leitores por 77 anos, trabalhando textos com desenhos
ilustrativos, caricaturas que aproximavam a realidade apresentada.
Nota-se por meio de sua escrita, o domínio que tinha com a língua
ao utilizá-la em um tom quase que de conversa, e sua sabedoria
admirável, onde questiona e analisa psicologicamente seus
personagens.
Referências:
FONTE:www.spacesports.com/~esquina/autores/rachel01.html
FONTE:NICOLA,
José de. Literatura Brasileira das origens de nossos dias
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