sexta-feira, 27 de julho de 2012

O REI DA VELA - OSWALD DE ANDRADE

(Por: Willyan Carlos Saggin)


O Rei da Vela, escrito por Oswald de Andrade em 1937, é uma peça teatral apresentada em três atos que demonstra o quadro social brasileiro da década de 30. A inspiração para esta obra veio da própria experiência pessoal de Oswald quando, após a Crise de 1929, a Revolução de 30 e a Revolução Constitucionalista de 32, viu-se forçado a percorrer inúmeros escritórios de agiotas para conseguir equilibrar sua situação financeira. Fato esse que contribui para a excelência da obra, pois os elementos cenográficos foram inspirados nos escritórios que Oswald havia, de fato, visitado. A peça foi motivo de calorosas discussões por parte dos críticos e dos espectadores, pois era um retrato da sociedade brasileira na década de 30.
A peça conta a história de Abelardo I, um agiota inescrupuloso que tinha como principal atividade financeira fazer empréstimos e depois fazia de tudo para tirar o máximo de dinheiro possível de seus devedores, não se cansava até deixá-los sem nada. Abelardo I é um burguês em ascensão que acumulou riquezas às custas das privações alheias. Ele tirou proveito da economia quebrada pela Queda da Bolsa de Valores de Nova York para investir nos mais variados negócios, como café, indústria e etc. Contudo, seu principal investimento, depois dos empréstimos, foi a fabricação de velas. Como a maioria das companhias elétricas haviam falido devido à Crise e o povo não tinha dinheiro para pagar a conta de luz para as empresas que haviam continuado em exercício, ele começou fabricar velas. Era um negócio lucrativo, pois todos estavam comprando velas para iluminar seus lares e também era costume popular colocar uma vela na mão de cada morto, então Abelardo I lucrava também com a morte das pessoas. Ele era o retrato do burguês que ascendia às custas da pobreza e das crenças populares.
Abelardo I tinha uma noiva, Heloísa de Lesbos. A moça representava a classe fazendeira em decadência, pois era filha de um grande latifundiário que se afunda em perversão e vícios ao ir à falência. A união dos dois é uma metáfora à fusão das duas grandes classes sociais diretamente influenciadas pelo sistema capitalista, os latifundiários em decadência e a burguesia em ascensão.
Há outros personagens na peça que também carregam grande importância na sociedade da época. Pinote, intelectual, representa os intelectuais e artistas da época que não sabem se seguem com seu compromisso social ou rendem-se a servir à burguesia, como é o seu caso. Outra peça importante na história é Mr. Jones, investidor norte-americano que representa a entrada do capital estrangeiro no país e revela um Brasil com uma enorme dívida com os Estados Unidos e Inglaterra. “Devemos tudo o que temos e o que não temos. Hipotecamos palmeiras... quedas de águas. Cardeais!”
 Os personagens Heloísa, Abelardo I e Mr. Jones representam as forças locomotoras da sociedade brasileira: a aristocracia rural, que se une à burguesia nacional ascendente, para servir ao capital estrangeiro.
O primeiro ato acontece no escritório de Abelardo I e resume-se aos seguintes fatos. Entra Abelardo II, seu empregado ambicioso que pretende superá-lo, e um devedor que há anos vem sendo explorado. São mostrados vários outros devedores gritando encarcerados em jaulas enquanto Abelardo I e II analisam as dívidas de seus clientes. Após esse fato, entra a noiva Heloísa.
O segundo ato passa-se em uma ilha tropical localizada da Baía de Guanabara e mostra várias cenas onde os personagens exibem certos desvios de personalidade. Heloísa e Mr. Jones flertando um com o outro; a mãe de Heloísa, Dona Cesarina, também se mostra acessível às investidas de seu futuro genro Alberto I; Totó Fruta-do-Conde, o irmão homossexual que rouba o amante, João dos Divãs, da própria irmã, Joana; Perdigoto, irmão da moça, bêbado e jogador viciado, que planeja organizar uma milícia patriótica para re-estabelecer a ordem social e conter os latifundiários descontentes; e Coronel Belamino, pai de Heloísa que só faz lamentar pela decadência da aristocracia rural. A relação entre a decadência dos colonos e desvios sexuais é reforçada com a personagem Dona Poloca, pilar das tradições aristocráticas e virgem com mais de sessenta anos, sente-se tentada a dormir com Abelardo I. Além disso, Mr. Jones interessa-se pelo chofer.
O terceiro e último ato da peça ocorre no escritório de usura. Abelardo I é roubado por sem empregado Abelardo II, fica sem nada e decide se suicidar. Antes de morrer o Rei da Vela primeiro lembra Heloísa de que ela deverá se casar com Abelardo II, o ladrão de sua fortuna, e depois fala para Abelardo II que mesmo que ele esteja morrendo, o sistema capitalista continuará, e a burguesia está condenada pois um dia os proletários se unirão contra eles, contudo, até que isso aconteça, continuarão todos submissos ao capital estrangeiro. Ainda antes de morrer, o Rei da Vela pede uma vela, recebe uma das mais comuns e baratas e é enterrado em uma vala qualquer. A peça termina com a cerimônia de casamento de Heloísa e Abelardo II.

O vídeo contendo trechos da peça pode ajudar na compreensão da obra. Segue o link para visualização do vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=riPkt_lTudI&feature=related.


Referências:
ANDRADE, Oswald de. O rei da vela. 2.ed. Sao Paulo: Globo, 2003. 132p. (Obras completas de Oswald de Andrade).
O Rei da Vela, de Oswald de Andrade. Disponível em: <http://www.passeiweb.com/na_ponta _lingua/livros/resumos_comentarios/o/o_rei_da_vela> Acessado em: 28 de junho de 2011

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