quarta-feira, 12 de junho de 2013

Dois Irmãos - Milton Hatoum

Dois Irmãos - Milton Hatoum
Por Tatiane da Luz Walczak
(PET-Letras/UNICENTRO) 

Resumo da obra:

            No início do século XX, Manaus, a capital da borracha, recebeu estrangeiros como o jovem Halim, aprendiz de mascate, e Zana, uma menina que chegou sob a asa do pai, o viúvo Galib, dono de um restaurante perto do porto. Halim e Zana vão gerar três filhos: Rânia, que não vai casar nunca, e os gêmeos Yaqub e Omar, permanentemente em conflito. O casarão que habitam é servido por Domingas, a empregada índia, e mais tarde também pelo filho de pai desconhecido que ela terá. Esse menino — o filho da empregada — será o narrador. Trinta anos depois dos acontecimentos, ele conta os dramas que testemunhou calado. Dois irmãos é a história de como se faz e se desfaz a casa de Halim e Zana.                                                                                                                                Apaixonado pela mulher, depois do nascimento dos filhos Halim se condena à nostalgia dos tempos em que não era pai, em que não precisava disputar o amor de Zana, em que os dois tinham todo o tempo do mundo para deitar na rede do alpendre e se entregar aos prazeres sensuais. Pelo que nos conta o narrador, Halim estará sempre à espera da decisão mais acertada diante dos abismos familiares: a desmedida dedicação de Zana a Omar, seu filho preferido; o trauma de Yaqub, o filho que, adolescente, foi separado da família supostamente para amenizar os conflitos com Omar; a relação amorosa entre os gêmeos e a irmã, Rânia.                                                                                       De Domingas, com quem compartilhava o quartinho nos fundos do quintal, o narrador nos diz que esta é uma mulher que não fez escolhas. Aparentemente, não escolheu nem mesmo o pai de seu filho. Milton Hatoum faz os dramas da casa estenderem-se à cidade e ao rio: Manaus e o Negro transformam-se em símbolos das ruínas e da passagem do tempo. E, pela voz de um narrador solitário, revive também os tempos sombrios em que as praças manauaras foram ocupadas por tanques e homens de verde. Esses tempos foram responsáveis pelo destino trágico de um grande personagem do livro: o professor Antenor Laval.

Biografia do autor:
           
            O escritor brasileiro, Milton Hatoum, nasceu em Manaus, em 1952. De ascendência libanesa, começou sua trajetória literária já com um livro premiado, Relato de um Certo Oriente, publicado em 1990, onde foi reconhecida com o Prêmio Jabuti.
            Duas outras obras se seguiram, Dois Irmãos, de 2001, e Cinzas do Norte, de 2006, ambas também foram igualmente laureadas com o Prêmio Jabuti, e esta última premiada com o Prêmio Portugal Telecom de Literatura. Seus livros foram todos publicados pela Editora Companhia das Letras. Recentemente ele trouxe a público uma nova criação, Órfãos do Eldorado, de 2008. Sua obra já foi traduzida em pelo menos oito países.                                                                                                                                     O escritor tece seus enredos sempre em torno de sua cidade natal, Manaus, mergulhada no espaço aparentemente sem fim da gigantesca Floresta Amazônica. Há também nos seus livros um certo sabor autobiográfico, pois neles ele resgata o universo familiar que testemunhou o desembarque dos primeiros imigrantes, na Manaus do início do século XX. Ao abordar terríveis conflitos familiares, ele enfoca a decadência dos princípios convencionais, sufocados pelo espaço cada vez mais dominado pela voracidade da globalização.                                                                       Milton Hatoum aborda, assim, em seus livros, as consequências deste aniquilamento das convenções, o seu reflexo na desorganização das relações familiares, adotando igualmente um certo tom crítico na esfera política, principalmente no que se refere à Ditadura Militar vigente nos anos 60 e 70 no Brasil. O autor evoca os fantasmas do passado para reconstruir no presente as experiências já vividas. Consagrado pela crítica, é considerado um dos principais escritores da literatura contemporânea.                                                                                                                                     Seus livros já foram editados em diversos países, entre eles a França, Inglaterra, Portugal, Estados Unidos, Itália, Espanha, Alemanha, Holanda, Grécia e Líbano. Atualmente, o escritor reside na cidade de São Paulo.

Contexto-histórico:

            O romance Dois irmãos, publicado em 2000, foi escrito em estilo enxuto e ao mesmo tempo repleto de sutilezas. O autor Milton Hatoum narra a tumultuada relação de ódio existente entre dois irmãos gêmeos, Yaqub e Omar, em uma família de origem libanesa que vive em Manaus.
O ambiente com certa tensão que forma o pano de fundo da história é o de imigrantes que se dedicam ao comércio, numa cidade que vê aprofundar-se sua decadência, após o período de grande efervescência econômica e cultural vivido no início do século XX.

            Um forte traço a pontuar na obra é a questão da identidade, que perpassa toda a cultura pós-moderna, especialmente a literatura, pois representa a busca do próprio ser humano, que se sente, hoje, como um nômade, um incessante exilado, onde quer que esteja. Este traço é ainda mais acentuado nesta obra, povoada por personagens que deixaram sua pátria para tentar no Brasil uma vida nova, e por seus descendentes, que ainda não se sentem à vontade no lugar que ocupam.                 O fio condutor que guia a construção desta identidade é a memória, praticamente a protagonista da produção literária de Milton Hatoum pois é ela, bem como sua eventual ausência, que orienta  a narrativa. Dois Irmãos é a obra mais explorada e analisada deste autor, que aqui desenvolve os temas já presentes em uma obra sua anterior, Relato de um Certo Oriente, embora de uma forma menos rebuscada e mais singela, o que propicia ao leitor uma compreensão maior de sua temática.                                                                                                                                                             A obra apresenta avanços e recuos no tempo, sem uma cronologia linear. Os problemas vão sendo revelados ao leitor aos poucos, conforme o narrador rememora fatos esclarecedores e os encadeia para solucionar os enigmas da história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário