(Por Lincoln Raniere)
Os contos de Machado de Assis revelam o olhar do gênio sobre aspectos do cotidiano de uma sociedade do século XIX. Suas histórias têm como cenário a cidade do Rio de Janeiro, mas tratam de temas que podem ser considerados universais. É comum encontrarmos dois tipos de abordagens em Machado: uma que se refere à vida pública, um resgate que o escritor faz dos acontecimentos políticos da época; a outra revela conflitos da vida privada, sendo que as mudanças da vida pública refletem diretamente na rotina doméstica, as instabilidades políticas trazem medo e insegurança também às pessoas comuns.
Em “conto de escola” o narrador nos revela que o período em a história se passa o Brasil estava no fim da Regência, tempos de grande agitação política. Situado no contexto da sociedade de 1840, o enfoque machadiano está no cotidiano escolar da época, na severidade com que os professores tratavam seus alunos - incluindo castigos físicos -, no medo que a figura do professor representava para as crianças. O narrador, Pilar, conta seu primeiro contato com a corrupção, quando criança, através de seu colega Raimundo, filho do professor. Seu primeiro contato com a corrupção teve um sabor amargo, pois associado a ele veio a delação, e graças a Curvelo, o dedo-duro, Pilar sente na pele o dissabor da denúncia. Não se sabe exatamente o porquê da delação, mas é revelado dois comportamentos presentes nas relações adultas, mas que nascem no homem ainda criança: a corrupção e a delação.
Machado não julga o comportamento dos estudantes, nem a punição que o mestre aplicou-lhes; o conflito recebe uma abordagem realista de modo que as reflexões devem ser feitas pelo leitor. O momento fotografado pela história permanecerá intacto, no entanto as considerações e reflexões acerca dos temas que compõem essa trama estão submetidas ao leitor, situado em tempo e espaço específicos que determinarão o teor de sua análise.
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