(Por Morgani Guzzo e Isabela Tornopolski)
Miguel Sanches Neto é escritor e crítico literário que passou a ser conhecido a partir dos anos 2000, quando se tornou um dos nomes mais representativos da nova literatura brasileira. Nascido em 1965, no interior do Paraná, Sanches Neto é um escritor eclético, que escreveu diversos gêneros. Formado em Letras e professor de Literatura Brasileira na Universidade Estadual de Ponta Grossa, ele também atua como crítico literário no jornal paranaense Gazeta do Povo e na revista Carta Capital.
A Obra Um Amor Anarquista é um romance histórico, ou seja, uma obra de literatura que aborda um período da história. A estrutura do romance é permeada por cartas escritas pelo fundador da colônia, o italiano Giovanni Rossi, sobre todos os aspectos relacionados a construção da colônia no Brasil.
A temática do romance é o anarquismo. Mas você sabe o que é anarquismo?
O Anarquismo é uma filosofia política que tem como objetivo a extinção de qualquer forma de governo. Lembre-se: o termo anarquia não significa bagunça ou desorganização.
Aqui no Brasil, as idéias anarquistas tiveram força a partir da imigração européia no final do século XIX e começo do século XX. É nesse espaço de tempo que se situa o romance UM AMOR ANARQUISTA.
O livro conta a história de Giovanni Rossi, um anarquista italiano que vem para o Brasil na tentativa de fundação de uma comunidade baseada no trabalho, na negação do reconhecimento civil e religioso do matrimônio e na inexistência da propriedade privada. Essa comunidade foi chamada COLÔNIA SOCIALISTA CECÍLIA e se localizava no município de Palmeira, no Paraná.
Na liderança de Rossi, a Colônia Cecília foi composta, primeiramente, por 150 colonos. Após a construção das habitações coletivas e individuais, um dos primeiros problemas encontrados foi na divisão dos trabalhos: os artesãos fariam o que já faziam antes; mas os lavradores tiveram que reaprender sobre o plantio, por causa da diferença entre o solo brasileiro e italiano.
Além disso, muitos outros problemas foram surgindo. Um deles foi a falta de dinheiro para a alimentação até que a plantação crescesse. Outro e, talvez, o principal fator no desenrolar do romance, foi o conflito interno dos homens com a quebra da estrutura familiar católica.
O amor anarquista significa que o homem perde a exclusividade sobre a mulher, que é livre e dona do próprio corpo. Para os imigrantes que ainda estavam se adaptando ao anarquismo, o ciúme era um sentimento conflitante.
A escassez de comida também criou muitos conflitos, que acabaram resultando no abandono da colônia e na perda da sanidade de alguns homens, já que para eles, o trabalho pesado e sem recompensa, a pouca comida e a ausência de mulheres era insustentável.
Após um ano de existência, a colônia passa por dificuldades sérias: pouca comida, ganância dos agricultores, famílias com muitas crianças e poucos trabalhadores, ciúmes que atrapalha a vida em conjunto; pais que impedem as filhas de praticar o amor livre, abandono dos jovens mais idealistas da colônia, sentindo-se frustrados, e querendo o barulho da cidade e o movimento do capitalismo; agricultores quebrando a estrutura anarquista por meio de votos, propriedade privada, etc.
Durante os anos de existência da colônia as ideologias anarquistas foram testadas. Apesar de os jovens adeptos do anarquismo estarem dispostos a fazer a experiência dar certo, as famílias já estruturadas não se adaptaram e, além disso, com suas cultura já estabelecida, não conseguiam seguir esses ideais.
O romance retrata o período de 1890 a 1894, no qual Giovanni Rossi lutou pela sobrevivência da Colônia Cecília, buscando novos adeptos, principalmente jovens dispostos a viver os princípios do anarquismo. Dessa forma, tentou tornar a colônia auto-suficiente, ou seja, fazer com que as necessidades dos moradores fossem supridas pela própria produção da colônia. Mas isso não aconteceu.
A conclusão de Giovanni para o fim da experiência da Colônia é de que uma sociedade anarquista é possível, uma vez que não exista laços familiares tradicionais, egoísmo e miséria, ou seja, que haja pessoas dispostas a trabalhar e viver pelo coletivo.
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