Muitas Vozes - Ferreira Gullar
Por Jean Pruchniok
(PET-Letras/UNICENTRO)
Sobre o autor:
José Ribamar Ferreira nasceu em 10 de setembro de 1930 em São
Luís, Maranhão. Ao completar 18 anos, mudou seu nome para Gullar, uma adaptação
do sobrenome de sua mãe, Goulart. Sobre a mudança de nome, Ferreira Gullar
declarou que se tudo na vida é inventado, ele também inventaria seu nome. Publicou
seu primeiro livro, “Um pouco acima do chão”, em 1949, mas esta obra acabou
sendo excluída de sua bibliografia oficial. No ano seguinte ganhou um concurso
promovido pelo Jornal de Letras com o poema “O galo”. Em 1951, mudou-se para o
Rio de Janeiro, onde trabalhou como revisor na revista “O Cruzeiro”. Além
dessa, trabalharia também em outras revistas e jornais. Em 1954, publicou A
luta corporal. Dois anos depois, participa da I Exposição Nacional de Arte
Concreta no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP). Em 1959,
publica o “Manifesto Neo-concreto” no “Suplemento Dominical”.
Relações do autor com o contexto
histórico:
Ferreira Gullar viveu e produziu durante o pós-guerra no Brasil, período no qual a sociedade brasileira sofreu profundas mudanças, o fim do governo Vargas e os chamados anos dourados. Década de 1950 que recebeu a alcunha de Anos dourados. É considerada uma época de transição entre o período de guerras da primeira metade do século XX e o período das revoluções comportamentais e tecnológicas da segunda metade. Nesta época teve início a chegada da televisão no Brasil. Esta época também foi considerada a "idade de ouro" do cinema e também foi a época em que Seleção Brasileira de Futebol faturou o seu primeiro título mundial. Após esse tempo veio a decada de 60, talvez a decada que mais marcou o seculo XX, em termos culturais e politicos, tambem foi esse o periodo que iniciou a ditadura no brasil e que Ferreira gullar foi exilado. Em 1964 Ferreira Gullar, filia-se ao Partido Comunista e funda o Grupo Opinião com Paulo Pontes e outros. Nessa época o Brasil vivia o conturbado período da Ditadura militar, o regime autoritário que governou o país de 1º de abril de 1964 até 15 de março de 1985. A implantação da ditadura começou com o Golpe de 1964, quando as Forças Armadas do Brasil derrubaram o governo do presidente esquerdista democraticamente eleito João Goulart. Dois anos depois, a peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come ganha os prêmios Molière e Saci. Ferreira Gullar é preso durante a ditadura militar em 1968 e parte para o exílio em 1971. Nessa época moro em Moscou na Rússia, Lima no Peru e Buenos Aires na Argentina. Em Buenos Aires escreve sua mais famosa obra, Poema Sujo, que foi publicada no Brasil em 1976 e serviu como um ato pela volta de Ferreira Gullar ao país. No ano seguinte, ele retorna ao Brasil. Desde então, o poeta publicou diversos outros livros e ganhou vários prêmios.
A obra “muitas vozes”:
Após longo período sem publicar nenhum poema em livro,
Ferreira Gullar volta em 1999 com a obra "Muitas Vozes". "Muitas
Vozes" reúne 54 poemas divididos em quatro partes, sendo que a primeira
não recebe nenhum título e as outras três são “Ao rés da fala”, “Poemas recentes”
e “Poemas resgatados”. Ao contrário das outras partes, “Ao rés da fala”
surpreende pela forma diferente de tratar de alguns de seus temas. Estão em “Ao
rés da fala”, por exemplo, poemas que tratam de seu exílio no Chile e da morte
de sua primeira esposa. Por fim, convém ressaltar que após anos de
experimentação literária e busca por novas formas de fazer poesia, Gullar volta
a realizar em "Muitas Vozes" poemas metrificados e rimados – como
pode-se notar mais fortemente na terceira parte do livro, “Poemas recentes”. Em
seus livros anteriores, a maior preocupação era com a subversão da linguagem,
buscando através da escrita “dizer o indizível”, como definiu o próprio
escritor, e trazer em forma de poema a própria vida. Esse livro representa uma
ruptura temática dentro da biografia do escritor, diferenciando-se de grandes
obras anteriores tais como "A Luta Corporal" (1954) e "Poema
Sujo" (1976). Seu segundo trabalho, "A luta corporal" (1954), causou grande impacto
no meio intelectual brasileiro por ter uma proposta gráfica muito inovadora
para a época. Mais tarde o poeta iria romper com o concretismo e ajudar a criar
o movimento neo-concretista, o qual também deixou de lado por volta da década
de 1960. Assim, através de experiências diversas com a linguagem e o fazer
poético, Gullar consegue firmar-se como um poeta de vanguarda dentro da
literatura nacional. Em "Muitas
Vozes" podemos ver reflexões sobre a vida, a morte, memórias da infância,
o silêncio e outros temas. O tema da morte, muito frequente no livro, talvez
reflexo das perdas enfrentadas pelo autor na década de 1990 – seu filho e sua
primeira esposa haviam falecido nessa época. Porém, a morte não é vista com
medo ou horror, mas sim como objeto de reflexão. Em contraste ao sentimento de
dor e perda que o tema da morte traz, vê-se também a celebração da vida e do
amor – Gullar havia encontrado um novo amor em sua segunda esposa, a poetisa
Cláudia Ahimsa.
"Muitas Vozes" tem como preocupação central a
própria palavra e em diversos poemas ele apenas “escuta”, “observa” e “reflete”
a vida. Assim, o título do livro pode ser compreendido como a reunião das
“muitas vozes” que possuem a poesia de Gullar: as experiências com a poesia
formal, o concretismo e neo-concretismo, as temáticas da morte, infância, vida
e diversos outros aspectos da poesia do escritor estão todos presentes em
"Muitas Vozes".
Referências:
Caio Navarro de Toledo. 1964:
O golpe contra as reformas e a democracia. Revista Brasileira de
História vol.24 no.47. 2004. Página visitada em 22/04/2013.
Gullar, ferreira:
“muitas vozez”. Jose Olimpio editora,
1999.
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