Melhores Crônicas - Rachel de Queiroz
Por Ana Paula Kuchla e Neide Tracz de Cristo da Silva
(PET-Letras/UNICENTRO)
Contexto histórico
Inicialmente antes de nos
referir a obra, relevante se torna dizer
que no início do século XX, a literatura brasileira atravessava um período de
transição. As estéticas literárias (Relismo, Naturalismo, Parnasianismo),
muitas vezes se fundiam. De um lado, ainda era forte a influência das
tendências artísticas da segunda metade do século XIX; do outro lado, já
começava a ser preparada a grande renovação modernista, cujo marco no Brasil é
a Semana de Arte Moderna (1922). A essse período de transição, que não chega a
construir um movimento literário chmamos de Pré-Modernismo.
Nesse sentido, deve-se dizer que é entre esse
“Pré-Modernisno” e o “Modernissmo” já fixado como movimento literário que as
crônicas de Rachel de Queiroz estão inseridas. No “Modernismo”, há uma
aproximação com o leitor numa linguagem mais leve e parecida com a oralidade
criando certa intimidade apelativa e um enfoque mais direto dos fatos marcados
pelo realismo- naturalismo do século XIX. Como tema, os autores do modernismo
optam pelo regionalismo no romance, principalmente o nordestino, onde problemas
como a seca, a migração, as lutas diárias do trabalho rural, a miséria e a
ignorância foram amplamente explorados e evidenciados.
Sobre a Autora
Rachel de Queiroz nasceu
em Fortaleza, Ceará, em novembro de 1910. Viveu parte de sua infância na
capital do estado e parte, no interior, na fazenda dos pais. Depois da seca de
1915, que atingiu a propriedade famíliar, mudou-se para o Rio de janeiro, onde ficou
por pouco tempo, transferindo-se para o Belém do Pará.
De volta ao Ceará, em 1921, retomou os estudos regulares,
como interna do Colégio Imaculada Conceição, formando-se professora em 1925.
Ingressou no jornalismo como cronista, em 1927. Em 1930, lançou seu primeiro
romance O Quinze que recebeu o primeiro prêmio, concedido pela Fundação Graça
Aranha. Em 1931, veio ao Rio de Janeiro para recebê-lo, onde travou contato com
o Partido Comunista Brasileiro. Nos anos seguintes, participou da ação política
de esquerda, pela qual foi presa em 1937. Sem abondonar a ficção, continou
colaborando regularmente com jornais e revistas, dedicando-se à crônica jornalística,
ao teatro e à tradução. Foi, durante muito tempo, cronista exclusiva da revista
O Cruzeiro. Em 1977, foi a primeira
escritora a ingressar na Acadêmia Brasileira de Letras, um grupo que, até
então, tinha sido exclusivamente masculino. Raquel de Queiroz vem a falecer no
dia 4 de novembro de 2003 em sua casa no Rio de janeiro.
Obra “As Melhores Crônicas”
“As Melhores Crônicas de Rachel de Queiroz” foi
organizado por Heloisa Buarque de Hollanda e reúne crônicas publicads por
Raquel de Queiroz em seis livros, abrangendo um príodo que vai de 1948 “A
donzela e a moura morta” à 2002 “Falso mar, falso mundo”. Tendo iniciado sua
carreira no jornalismo ainda muito jovem, apenas aos 17 anos, se considerava
antes de tudo uma jornalista. Dizia, inclusive, não gostar de escrever,
fazendo-a apenas para se sustentar.
Cunpre assinalar que, é através de sua atividade regular
na imprensa que Rachel irá produzir grande parte de sua obra. E, dentro da
profissão de jornalista, é na crônica, gênero literário que pode ser
considerado intermediário entre o jornalismo e a literatura, que ela irá
trabalhar de melhor forma sua escrita.
Suas crônicas tratam dos mais variados temas registram lembranças, fatos históricos,
opiniões, críticas, indignações e que mais vier à mente da escritora.
Para melhor entender a crônica de Rachel de Queiroz,
deve-se ter em mente o que é uma crônica. Esse é um genênro literário que
trata, no geral, de problemas cotidianos, assuntos comuns ao dia-a-dia das
pessoas, sendo na maioria das vezes um texto curto. Cada crônica é organizada
em torno de um único eixo temático e suas personagens não possuem
aprofundamento psicológico e muitas vezes nem possuem nomes. Devido a essas
característcas, por muito tempo discutiu-se se a crônica era de fato um gênero
literário ou não.
Porém, a crônica de Rachel de Queiroz apresenta diversas
inovações e possuem um caráter experimental, aproximando-a muitas vezes de um
conto (gênero literário de textos curtos que apresentam personagens, enredo,
narrador). Assim, através de seu experimentalismo literário, Rachel de Queiroz
coloca em debate o caráetr litarário ou não da crônica, dando força a esse
gênero que muito foi considerado secundário dentro da literatura brasileira.
Dentre as crônicas escolhoidas para este livro, têm-se
grande destaque os tipos regionais e as lembranças que Rachel tem do sertão.
Assim, muitas vezes estes textos apresentam um caráter autobiográfico, a medida
que são baseados em lembranças e fatos reais vividos pela escritora. Percebe-se
também uma linguagem simples como se fosse um diálogo com o leitor, uma
característica comum às crônicas. Consegue-se então através dessa aproximação
com o leitor uma maior credibilidade ao texto.
Portanto, por mais que a linguagem empregada por Rachel
de Queiroz em seus textos seja considerada “simples” para os padrões litarários
convencionais, esta simplicidade é fruto de intenso trabalho técnico e
literário. Não só em suas crônicas, mas também em seus romances e outros textos, a preocupação em escrever de
uma “forma simples” é uma característica central de seu estilo. Outra
característica importante da escrita de Rachel de Queiroz é a busca por uma
linguagem oral e natural.
Além do sertão, outros temas recorrentes em suas crônicas
são o cotidiano carioca – Rachel de Queiroz viveu alguns anos na ilha do
Governador e era apaixonada pelo lugar, escrevendo diversas crônicas que
tomavam a ilha como tema, reflexões sobre o amor, existem algumas crõnicas em
que ela narra aventuras amorosas da mocidade e paixões proibidas, e têm bastante
destaque em temas como o tempo, a
velhice e a morte.
Crônicas Representaivas
“ O Senhor São João”
Nesse texto, a autora usa como ponto central a festa de
São João para descobrir certos preconceitos
e esteriotipos mantidos pelos moradores das regiões Sul e Sudeste acerca
do Norte e Nordeste. Tendo como ponto de partida a ideia de que no Norte o povo
passa o ano todo dançando em uma série de festividades. Rachel de Queiroz
trabalha a diferença entre diversos estado e cidades do Norte e Nordeste, dando
voz aá riqueza cultural desta regiões. As lembranças da infância no Ceará tem
grande importância na construção dessa narrativa.
“Rosa e o fuzileiro” e “Vozes d’África”
Estes contos fazem parte de uma vasta produção sobre
amores impossíveis bem ao estilo Romeu e Julieta. Em “Rosa e o fuzileiro”, Rachel
conta a história de uma jovem, Rosa, que se apaixona por um fuzileiro naval e
que é violentamente agredida por seu pai, que se opunha ao amor da moça. Alguns
meses depois, ela reconta a história de rosa, mas dessa vez sob o ponto de
vista do pai, em “Vozes d’África”.
“Pátria Amada”
Após uma temporada no exetrior, rachel de Queiroz fala
sobre a sensação de voltar ao Brasil. Por mais que, ao estar em solo
brasileiro, o que mais se quer é ir para e exterior e fugir de toda a bagunça
de nosso país, ao se encontrar distante e se deparar com a bandeira nacional, o
que se sente é saudade e vontade de voltar para casa. Rachel de Queiroz, em tom
nacionalista, também reflete sobre o que é a pátria. O tema do “retorno” (seja
ao Brasil, seja à casa, ou seja o retorno à infância) é um tema bastante
recorrente em suas crônicas.
“Sertaneja”
Nesta
crônica, o saudosismo e o orgulho de sua terra-natal, o Ceará aparece com
grande força para retratar a vida no sertão. O ocorrido passar do tempo em uma
cidade como O Rio de Janeiro é posto em contraste com o tempo devagar e sossegado
da vida no sertão. Este tema do “tranquilo passar do tempo” é discutido em
diversas outras crônicas da escritora.
“Não aconselho
envelhecer”
Rachel
de Queiroz traça nessa crônica uma perspectiva sobre a velhice bastante
diferente do senso comum. Primeiramente, ela discorda do termo “terceira
idade”, e elenca o que considera diversos prejuízos causados pelo
envelhecimento, que para ela é como uma “espécie de HIV a longo prazo”.
Suas principais obras são: “O Quinze” (1930), “As três Marias
(1939), “100 Crônicas escolhidas” (1958), “Dora Doralina” (1975), “As
menininhas e outras crônicas” (1976) e “Memorial de Maria Moura” (1992).
Referências:
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