O Rei da Vela - Oswald de Andrade
Por Willyan Carlos Saggin
(PET-Letras/UNICENTRO)
Biografia do autor
José Oswald de Andrade (11/01/1890 – 22/10/1954) nasceu em uma família
abastada e graduou-se em direito no ensino superior. Contudo, sempre teve
grande interesse e envolvimento com o jornalismo e a literatura.
Ainda em 1911, antes de se formar advogado, fundou em São Paulo um
semanário de crítica e humor, que utilizava para publicar seus próprios
trabalhos na área do jornalismo literário.
Mais tarde, de modo a defender a pintora Anita Malfatti de uma crítica
severa de Monteiro Lobato, fundou o jornal “Papel e Tinta”. Logo em seguida,
juntamente de outros intelectuais como a própria Anita e Mário de Andrade,
organizou a Semana de Arte Moderna de 1922. Seu espírito irreverente lhe
concebeu grande status na primeira metade do século 20, sendo que nenhum outro
escritor modernista ficou mais conhecido do que ele.
Juntando as ideias estéticas da Semana de Arte Moderna junto a ideias
nacionalistas, deu início, em 1924, ao movimento Pau-Brasil.
Oswald foi autor do “Manifesto Antropofágico”, onde sugeriu que as
culturas estrangeiras fossem devoradas e que o Brasil criasse sua própria
cultura revolucionária.
Todavia, a vida de Oswald foi abalada pela Crise de 29, onde
encontrou-se sem dinheiro e foi várias vezes levado à prisão devido às suas
associações políticas.
Em 1945, tornou-se professor da USP, emprego em que permaneceu pelo
resto de sua vida.
Oswald morreu aos 64 anos e seu legado (poesias, peças e romances) foi
fundamental para a literatura brasileira, uma vez que foi fonte precursora de
dois movimentos importantíssimos na cultura brasileiro na década de 60: o
concretismo e o tropicalismo.
Contexto Histórico
A
época em que Oswald de Andrade escreveu suas obras, principalmente “O Rei da
Vela”, foi um período muito conturbado, principalmente no que diz respeito ao
quadro político-social.
Primeiramente,
a Crise de 1929, abalou financeiramente não só o Brasil, mas vários países do
mundo. Depois, ocorreu a Revolução de 30, um movimento armado que pôs fim à
chamada República Velha com o Golpe de Estado, um golpe que culminou com a
deposição do atual presidente Washington Luiz, o impedimento da posse do
presidente eleito Júlio Prestes e com a ascensão ao poder se Getúlio Vargas.
Mais tarde, como Oswald residia em São Paulo, teve que passar também pela
Revolução Constitucionalista de 32, movimento contrário à ditadura de Vargas
que exigiu que o país tivesse uma constituição e, consequentemente, uma postura
mais democrática.
Resumo e Análise da Obra
O Rei da Vela, escrito por
Oswald de Andrade em 1937, é uma peça teatral apresentada em três atos que
demonstra o quadro social brasileiro da década de 30. A inspiração para esta
obra veio da própria experiência pessoal de Oswald quando, após a Crise de
1929, a Revolução de 30 e a Revolução Constitucionalista de 32, viu-se forçado
a percorrer inúmeros escritórios de agiotas para conseguir equilibrar sua
situação financeira. Fato esse que contribui para a excelência da obra, pois os
elementos cenográficos foram inspirados nos escritórios que Oswald havia, de
fato, visitado. A peça foi motivo de calorosas discussões por parte dos
críticos e dos espectadores, pois era um retrato da sociedade brasileira na
década de 30.
A
peça conta a história de Abelardo I, um agiota inescrupuloso que tinha como
principal atividade financeira fazer empréstimos e depois fazia de tudo para
tirar o máximo de dinheiro possível de seus devedores, não se cansava até
deixá-los sem nada. Abelardo I é um burguês em ascensão que acumulou riquezas
às custas das privações alheias. Ele tirou proveito da economia quebrada pela
Queda da Bolsa de Valores de Nova York para investir nos mais variados
negócios, como café, indústria e etc. Contudo, seu principal investimento,
depois dos empréstimos, foi a fabricação de velas. Como a maioria das
companhias elétricas haviam falido devido à Crise e o povo não tinha dinheiro
para pagar a conta de luz para as empresas que haviam continuado em exercício,
ele começou fabricar velas. Era um negócio lucrativo, pois todos estavam
comprando velas para iluminar seus lares e também era costume popular colocar
uma vela na mão de cada morto, então Abelardo I lucrava também com a morte das
pessoas. Ele era o retrato do burguês que ascendia às custas da pobreza e das
crenças populares.
Abelardo
I tinha uma noiva, Heloísa de Lesbos. A moça representava a classe fazendeira
em decadência, pois era filha de um grande latifundiário que se afunda em
perversão e vícios ao ir à falência. A união dos dois é uma metáfora à fusão
das duas grandes classes sociais diretamente influenciadas pelo sistema
capitalista, os latifundiários em decadência e a burguesia em ascensão.
Há
outros personagens na peça que também carregam grande importância na sociedade
da época. Pinote, intelectual, representa os intelectuais e artistas da época
que não sabem se seguem com seu compromisso social ou rendem-se a servir à
burguesia, como é o seu caso. Outra peça importante na história é Mr. Jones,
investidor norte-americano que representa a entrada do capital estrangeiro no
país e revela um Brasil com uma enorme dívida com os Estados Unidos e
Inglaterra. “Devemos tudo o que temos e o que não temos. Hipotecamos
palmeiras... quedas de águas. Cardeais!”
Os personagens Heloísa, Abelardo I e Mr. Jones
representam as forças locomotoras da sociedade brasileira: a aristocracia
rural, que se une à burguesia nacional ascendente, para servir ao capital
estrangeiro.
O
primeiro ato acontece no escritório de Abelardo I e resume-se aos seguintes
fatos. Entra Abelardo II, seu empregado ambicioso que pretende superá-lo, e um
devedor que há anos vem sendo explorado. São mostrados vários outros devedores
gritando encarcerados em jaulas enquanto Abelardo I e II analisam as dívidas de
seus clientes. Após esse fato, entra a noiva Heloísa.
O
segundo ato passa-se em uma ilha tropical localizada da Baía de Guanabara e
mostra várias cenas onde os personagens exibem certos desvios de personalidade.
Heloísa e Mr. Jones flertando um com o outro; a mãe de Heloísa, Dona Cesarina,
também se mostra acessível às investidas de seu futuro genro Alberto I; Totó
Fruta-do-Conde, o irmão homossexual que rouba o amante, João dos Divãs, da
própria irmã, Joana; Perdigoto, irmão da moça, bêbado e jogador viciado, que
planeja organizar uma milícia patriótica para re-estabelecer a ordem social e
conter os latifundiários descontentes; e Coronel Belamino, pai de Heloísa que
só faz lamentar pela decadência da aristocracia rural. A relação entre a
decadência dos colonos e desvios sexuais é reforçada com a personagem Dona
Poloca, pilar das tradições aristocráticas e virgem com mais de sessenta anos,
sente-se tentada a dormir com Abelardo I. Além disso, Mr. Jones interessa-se
pelo chofer.
O
terceiro e último ato da peça ocorre no escritório de usura. Abelardo I é
roubado por sem empregado Abelardo II, fica sem nada e decide se suicidar.
Antes de morrer o Rei da Vela primeiro lembra Heloísa de que ela deverá se
casar com Abelardo II, o ladrão de sua fortuna, e depois fala para Abelardo II
que mesmo que ele esteja morrendo, o sistema capitalista continuará, e a
burguesia está condenada pois um dia os proletários se unirão contra eles,
contudo, até que isso aconteça, continuarão todos submissos ao capital
estrangeiro. Ainda antes de morrer, o Rei da Vela pede uma vela, recebe uma das
mais comuns e baratas e é enterrado em uma vala qualquer. A peça termina com a
cerimônia de casamento de Heloísa e Abelardo II.
O
vídeo contendo trechos da peça pode ajudar na compreensão da obra. Segue o link
para visualização do vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=riPkt_lTudI&feature=related.
Referências:
ANDRADE, Oswald de. O rei da vela. 2.ed. Sao Paulo: Globo, 2003. 132p. (Obras completas
de Oswald de Andrade).
O
Rei da Vela, de Oswald de Andrade. Disponível em: <http://www.passeiweb.com/na_ponta
_lingua/livros/resumos_comentarios/o/o_rei_da_vela> Acessado em: 28 de junho
de 2011
Oswald de Andrade – Biografia – Uol Educação. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/biografias/oswald-de-andrade.jhtm>
Acesso em: 15 de abril se 2013.
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